quarta-feira, outubro 03, 2007

Estado lança edital com interferências estéticas

Por : Luciano Aguiar

O segundo edital de música deste ano, lançado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), o Multimídia Circular, tem gerado muito descontentamento entre os profissionais da área. Os artistas reclamam da cláusula que recomenda que um dos músicos seja DJ ou trabalhe com equipamentos eletrônicos. Também reclamam da exigência de um VJ, um profissional que trabalha com a projeção de vídeos, dentro dos projetos concorrentes. A queixa surge no momento em que a Funceb realiza mais um Encontro Setorial com a classe artística, hoje, às 19 horas, no Palácio da Aclamação, com o intuito de, entre outros, mostrar o resultado do primeiro edital. O diretor de Música da Fundação. Gilberto Monte, alvo de questionamentos, participa do evento. Gilberto é um dos fundadores da Ong Eletrocooperativa. Também é integrante do grupo Tara Code, que insere a música eletrônica no trabalho. Roberval Santos, músico e produtor cultural e integrante da Cooperarte (uma cooperativa de artistas baianos), diz que a intenção é elaborar um documento em repúdio ao edital publicado. "Fazer imposições técnicas ou estéticas num edital, seja ele de que área for, não contribui em nada para a democratização dos meios de acesso para a classe artística. Esse edital está privilegiando um segmento, um setor, que se utiliza desse expediente para criar", conclui. Contrários - O professor da Escola de Música da Ufba Tom Tavares diz que "a Fundação é um órgão público e, como tal, não pode interferir no aspecto estético quando lança um edital, principalmente determinando a utilização de uma fonte sonora. Se faz um edital exigindo a utilização de um DJ e um VJ, teria que criar editais que exigissem a presença de violino, de violoncelo, de berimbau e assim por diante, até atingir todas as fontes sonoras. "Sinceramente, não dá para acreditar que seja verdade. Acho que tem uma coisa malredigida, ou então o edital foi feito por uma pessoa que gosta muito de música eletrônica", despacha o compositor Jota Velloso. Ele coloca que quando um órgão cultural faz uma exigência como esta, é empobrecido democraticamente. "Essa exigência da música com DJ e VJ, ainda que fosse algo do perfil do nosso país, da música baiana, seria prejudicial e absurda. A arte precisa de liberdade, nenhum tipo de imposição. Essas imposições são perigosíssimas", reclama o compositor. "O critério deve ser só o do valor artístico e deve haver uma comissão competente para selecionar", completa. "Está todo mundo descontente com esse edital, que está direcionado à música eletrônica. Você não pode assumir um cargo na secretaria e direcionar os editais para a estética com a qual trabalha. Se eu estivesse no lugar dele e desse a sugestão de que houvesse solos de improvisação nos projetos, seria absurdo", comenta o contrabaixista Ivan Bastos. "Acho interessante o trabalho da Eletrocooperativa, que coloca crianças em contato com a tecnologia. Mas o edital não pode ser direcionado, porque senão perde a legitimidade", acrescenta.



Gilberto Monte: "O uso dessas ferramentas pode ser muito amplo É um absurdo essa imposição estética" Tomaz Neto Defesa - O diretor de Música da Funceb, Gilberto Monte, diz que o edital não é excludente. Para ele o fato de haver a recomendação de que haja um DJ não significa que os projetos que não tenham DJs estejam fora de concorrência. "Inclusive, na curadoria, temos Fernando Marinho, que se preocupa e questiona alguns detalhes do edital e que, com certeza, será um olhar mais amplo", rebate. Monte diz que entende a colocação dos artistas. "Para mim, o uso dessas ferramentas pode ser muito amplo. É a forma como eu entendo", confessa o diretor, que ainda explica que o VJ pode trabalhar de várias formas e não somente na exibição do vídeo. "Pode ser uma videoinstalação, cores projetadas, luz cênica...", cita. Ivan Bastos rebate dizendo que os editais de música têm que ser mais específicos, senão a verba de música escoa para profissionais de vídeo. "Que façam, então, editais de multimeios, além dos de música, coloca. O ponto forte do edital, segundo Monte, são as oficinas, que os grupos dariam enquanto circulassem pelas cidades onde se apresentariam. Esse leque de profissionais foi pensado para que houvesse uma diversidade de oficinas dentro do edital, que não é só de circulação, mas também pedagógico, conclui. Monte diz, ainda, que este é apenas um dos editais lançados pela Fundação e que outros virão. "Se a gente tivesse discutido isso há mais tempo. Levantei isso no último encontro setorial e não houve um posicionamento como este de agora. Se as pessoas trouxessem um debate como este, poderíamos discutir isto de uma forma contínua. Ele defende a idéia de construção de um fórum de música no Estado, para que haja uma maior interlocução com a diretoria.

Eu vou ter que virar DJ?

Por:Danilo Fraga

Numa época em que todo mundo é DJ, nada mais democrático do que uma política cultural atenta a esse público "gigantesco". É o que a Fundação Cultural do Estado da Bahia [Funceb] parece pensar. Na segunda quinzena de setembro, a Funceb lançou 14 editais, que vão da cultura indígena ao teatro. Mas, entre todas as "artes", o que mais me chama a atenção é o edital "multimídia circular", que é direcionado à música, desde que ela seja eletrônica. Os grupos que desejem participar precisam ter entre seus integrantes ao menos um DJ e um VJ [quantos VJs existem na Bahia?]. O edital "Multimídia Circular" diz: "As apresentações de captações propostas deverão ser realizadas por um grupo, denominado neste Edital como Coletivo Multimídia, que deverá apresentar a seguinte composição: a) Ate 05 [cinco] músicos, recomendando-se que, pelo menos 01 [um] deles trabalhe com equipamentos eletrônicos ou como DJ; b) 01 [um] VJ ou profissional que trabalhe com vídeo-instalação, cenário virtual ou outras interfaces entre música e imagem; c) 01 [um] Técnico de Áudio; d) 01 [um] Roadie; e) 01 [um] Produtor". Não há outro edital para músicos ou projetos em música. Não há espaço para uma banda de rock, de reggae, um quarteto de cordas, um grupo de samba-de-roda que queira gravar um álbum [já que o "prêmio Manifestações Tradicionais da Cultura Popular" só cobre "celebrações, rituais, festas e práticas sociais"] enfim, ou coloca um DJ e um VJ para tocar, ou nada de dinheiro da Funceb. O mais interessante é que esse é um dos editais que pagam mais: são distribuídos R$ 160 mil, para no mínimo três projetos, ou seja, R$ 55 mil para cada. No extremo oposto está o prêmio voltado para as "manifestações tradicionais da cultura popular", em que R$ 150 mil serão divididos em 25 partes, ou seja, R$ 6 mil para cada. "Com esta iniciativa, a Funceb contribui para a descentralização e democratização do acesso aos recursos públicos e incentiva o desenvolvimento das diversas linguagens artísticas na capital e interior do estado", diz o texto da Funceb. Mas não parece. O atual diretor de Música e Artes Cênicas da Funceb é Gilberto Monte, que toca na Tara Code, um grupo de música eletrônica [que não pode concorrer], e um dos fundadores da Eletrocooperativa [cujos alunos podem concorrer]. E não dá para pensar que isso não seja deteminante, em algum ponto, para o edital ter saído assim. Os garotos da Eletrocooperativa [e os modernosos de plantão] têm seus empregos assegurados. Mas será que não existe nada mais de importante na música baiana? O império do Axé e agora essa. No intuito de ganhar algum dinheiro extra, eu vou lançar uma versão remix de "já tou cansado dessa panelinha". Mas com batida eletrônica, é claro. Em tempo: Só podem concorrer projetos direcionados a Salvador e região metropolitana, Juazeiro, Alagoinhas, Santo Amaro, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Jequié, Valença, Itabuna e Porto Seguro. Tudo bem que são algumas das maiores e mais importentes cidades da Bahia, mas e Ilhéus, Cachoeira [onde há, inclusive, os cursos de história e comunicação de uma universidade federal] e o resto do Estado não precisam de projetos musicais? Leia mais amanhã, no Caderno 2 do A TARDE.

Comentário:

Acredito que o principal problema de toda essa confusão em que a cada dia se envolve a Secult, vêm decorrente de problemas muito mais profundos e que a cada vez mais se agrava, problemas esses decorrentes de gestões passadas, de falta de nomes Técnicos que realmente pensem a cultura de uma outra forma que não a da panelinha de a ou b e problemas de ordem nacional. Como a falta de efetivas políticas culturais por parte do estado que realmente sejam pensadas num projeto muito mais amplo como a valorização e a diversidade cultural do nosso povo.Acredito que o Diretor Gilberto Monte (que agora passa pela sensação de ter teto de vidro..) seja uma músico acima de tudo com um grande conhecimento do cenário musical baiano, tanto independente quanto maistream , mais encontra um cenário bastante complexo, com falta de verdadeiras políticas culturais e orçamentárias também e por isso artistas e produtores devem sim ocupar os espaços de discussão para disputar projetos de fomento a nossa Cultura.

Mário Junior.

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