Sertão eletrônico
Lampirônicos lança amanhã, na Zauber, ‘Caia na madrugada’, terceiro e melhor disco da carreira
Por: Doris Miranda
Bacana é ver quando uma banda amadurece e encontra identidade. Mesmo que isso cause uma certa estranheza no público, acostumado a um conceito já estabelecido. É o caso dos baianos do Lampirônicos, que lançam amanhã Caia na madrugada, o terceiro e melhor disco de uma carreira de aproximadamente seis anos, que rendeu os CDs Que luz é essa? (2002) e Toda prece (2004). O show acontece a partir das 23h, na Zauber (Ladeira da Misericórdia), com participações especiais do cantor Ronei Jorge e do guitarrista Edinho Rosa, ambos da banda Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta, num cover especial de Aquela dança (de Ronei) e numa espécie de jam de improvisações de samba. Os ingressos custam R$15, com direito a um CD de brinde.
Caia na madrugada, maturado em sessões de gravação que duraram cerca de seis meses no estúdio da própria banda, reflete uma nova fase do sexteto, que apresenta um som mais limpo, mais refinado e com uma gama ainda maior de referências nordestinas, especialmente as pinçadas de Pernambuco e do interior da Bahia, agora bem mais explícitas. “É bom mudar. O som está bem mais limpo porque a gente privilegiou mais as canções”, confirma o vocalista Vince de Mira, que substituiu o antigo cantor do grupo, Nikima, pouco tempo antes da gravação de Toda prece.
Na leva de mudanças, eles destacam ainda mais a guitarra baiana tocada por Robertinho Barreto, instrumento inventado por Dodô e Osmar que, de certa forma, sempre fez parte da realidade dos Lampirônicos. Mas que ninguém espere o astral carnavalesco do instrumento tocado em cima do trio elétrico. A guitarrinha nessa versão atual da banda ganha um acento mais interiorano, com sotaque mais sutil. O que não quer dizer menos polivalente: ela fala a língua tanto da chula sertaneja quanto da guitarrada do Pará. “Privilegiamos o sotaque de interior da Bahia, não do litoral, como as pessoas estão acostumadas. Além disso, estamos correndo atrás de outras coisas que não são somente percussivas. É por isso que a gente deve focar cada vez mais na guitarra baiana, porque é uma tecnologia genuinamente nossa”, completa o cantor, que integra a banda ao lado de Mangaio (programações e samplers), Emanuel Venâncio (bateria), Marcelo Seco (baixo) e Robson de Almeida (percussão).
O disco é composto por 11 faixas, das quais oito são músicas completas e três são vinhetas curtinhas (destaque para a ótima Guitarrada baiana e a inusitada Sitar), um mix que já vinha sendo experimentado ao vivo, em shows, junto com outras inéditas que poderão ser lançadas em EP daqui a poucos meses. “No estúdio, a gente foi vendo quais as músicas que já estavam prontas e as que precisavam de retoques. Na verdade, este é o primeiro disco que a gente grava com tempo, com autonomia total. Os anteriores foram gravados na Ilha dos Sapos, estúdio de Carlinhos Brown, mas gosto do resultado de Caia na madrugada, sou muito mais a sonoridade deste CD”, revela.
Passeando pelas faixas dá para ouvir afrobeats (Caia na madrugada, Destino e Amerikhali), xotes e baiões (Além da vista), chulas (Frente a Igreja de Santana) e charangas latinas (Da sua laia), ritmos pouco trabalhados até então, relidos aqui numa espécie de batida lisérgica. Em alguns casos, como o de Mamata, faixa que fecha o disco, dá para escutar versões anteriores. A experimentação concebida na fase de pré-produção está disponível no Trama Virtual. O disco, que tem arte da capa de Edinho Rosa (o mesmo de Anacrônico, de Pitty), traz participações especiais de Mama Soares (perscussão em Sua laia), Emerson Cunha (synths em Frente a Igreja de Santana, Destino e Estrela de bolso), Pio Lobato (guitarra em Além da vista), Danilo Santanta (Mamata), André Luís Oliveira (Sitar) e do ex-guitarrista da banda, Bau Carvalho (Além da vista).
As músicas que não entraram na seleção desta vez podem aparecer em breve em formato EP, quem sabe em novas roupagens. “A gente não precisa mais se prender ao formato convencional do CD, podemos fazer um EP e tudo bem”, opina Vince. Após o lançamento, para o qual prensaram 400 cópias, a idéia da banda é fechar com alguma distribuidora para espalhar o material Brasil afora, mantendo a independência como linha de trabalho. “O mercado fonográfico está passando por uma fase complicada. No nosso caso, estamos optando pela independência como o caminho mais viável. Acho que a banda tem uma estrutura montada, com selo, editora e estúdio”, pontua o cantor.
Vindo da junção das palavras lampiões e eletrônicos, o título da banda dá a dica do som dos Lampirônicos, que mesclam a tradição nordestina e a pós-modernidade numa linguagem pessoal. O que isso quer dizer? Em linhas gerais, sugere um amálgama entre sambas, xotes, baiões e batuques afros e rock e sintetizadores. “Hoje, não consigo mais definir nossa música, não. A gente está fazendo nossa história, com mais tranqüilidade e como resultado da maturidade de tocar juntos há alguns anos”, diz ele. A partir de Caia na madrugada, talvez, esse conceito vá ficando cada vez mais claro para o público e orgânico para a banda.
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FICHA
Disco: Caia na madrugadaArtista: LampirônicosSelo: Maquinário/Audiolab (independente)Produção: Marcelo Santana e Mangaio
Evento: lançamento do CD Caia na madrugadaAtração: LampirônicosQuando: amanhã, às 23hLocal: Zauber (Ladeira da Misericórdia)Ingresso: R$15 (com direito a um CD)
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