O MERCADO DA MÚSICA BAIANA NO CENÁRIO CONTÊMPORANEO
Recentemente tive acesso a duas entrevistas interessantes uma do Chris Gomes baixista da banda Cobalto (Banda de Thrash Metal anos 80/90, Hardcore e Death Metal Melódico como o próprio define) e outra do Paulo André - Produtor do Festival Abril Pro Rock, feita por Luciano Mattos do site El Cabong, que demonstra diversos pontos interessantes para se compreender tanto o mercado da música no cenário contemporâneo, quanto o cenário musical baiano.
De um lado está Chris Gomes que faz parte de uma banda que para muitos que não conhecem a diversidade musical baiana acha improvável existir uma banda de Trash e Death metal na Bahia (É necessário deixar claro que assim como a Cobalto, existe uma infinidade de bandas de rock extremo como: Malefactor, Tharsis, Veuliah, Pandora entre outras corra atrás!). Chris demarca a sua posição quanto à falta de espaços tanto para tocar, quanto mídia especializada, preconceito por parte dos pequenos produtores culturais para investir na produção de eventos para estes segmentos musicais.
Já Paulo André nos aponta para informações interessantes quanto ao cenário de outra capital nordestina Recife no caso, que aponta dificuldades parecidas como a falta de rádios, que escoem a produção local, mesmo que artistas consagrados pela mídia especializada nacional como o caso da Nação Zumbi, Siba que configuraram listas de melhores cd´s de 2007 e com reconhecimento internacional, sejam ignorados pela mídia local. Outro ponto que se aproximam do nosso caso são os pouquíssimos espaços com uma pequena estrutura, para se realizar shows para pequeno e médio porte.
Esse cenário das duas capitais nos reporta a um cenário bastante complicado para os sujeitos participantes da Cadeia produtiva da Música no cenário cultural atual. De um lado artistas execrados por parte dos grandes conglomerados da Indústria Musical e de um lado o estado quanto órgão regulador de políticas culturais que preza em sua constituição o acesso a difusão da diversidade cultural dos povos. No caso de Recife, por exemplo, vemos o papel do estado de uma forma peculiar quando a prefeitura municipal do Recife realizou em menos de um ano shows com grandes artistas do cenário musical nacional e internacional, como: Manu Chao, Marisa Monte, Paralamas, Pato Fu, Milton Nascimento, todas as bandas pernambucanas e tudo isso gratuito. O que de certa forma contribui para a formação de platéia, prejudica os produtores culturais locais, numa disputa desleal com shows gratuitos, esfacelando a produção cultural local.
Nesse cenário a Bahia disputa no lado inverso, uma mudança de governo que para muitos apontava para, mudanças na política cultural no estado, se esmaece a cada dia quando se apresenta a falta de verbas para se investir na cultura e o processo de amadurecimento ainda dos novos gestores da política cultural baiana (É preciso deixar claro que foram 16 anos de hegemonia de um grupo político no estado. Neste caso o que antes era privilegiado com políticas culturais de favorecimento para artistas que se construíram através de políticas do estado (Um exemplo disso é uma artista consagrada como Ivete Sangalo, que detêm de diversos patrocinadores privados, para o seu bloco pessoal de carnaval, participa também de incentivos fiscais como a Lei Rouanet). O cenário hoje demonstra uma mudança no que se restringe ao favorecimento destes artistas no crescimento de suas empresas da cultura, mas não nos animemos, pois, a lógica do toma daqui que eu te favoreço ali na frente, ainda se faz presente nos bastidores políticos e culturais. A exemplo o poderio da mídia do grupo que até então dominou o cenário político ao longo do coronelismo baiano. Com isso se apresentam algumas situações, a Bahia hoje detém de uma cena cultural musical muito diversificada, no que tange músicos, compositores, interpretes, produtores musicais. Mas sofre com a sua própria autodestruição.O que quero dizer com isso o discurso de que as bandas precisam se organizar, não funciona mais, acredito que o axé-music “que nada mais foi do que produções fonográficas que lidavam com produtos culturais específicos, e que distribuíam em mercados alternativos as estruturas tradicionais do comércio fonográfico. Tem muito a nos ensinar ainda hoje, no surgimento do axé-music a Bahia como hoje ainda, não existia empresas que prensassem discos o que existia era uma gravadora (a WR que funciona até hoje), mas que não prensavam e não tinha como distribuir para fora os fonogramas, a WR não só teve que montar uma banda para gravar as músicas dos compositores baianos, quanto distribuiu essa produção no mercado local, construindo assim um cenário local de dentro pra fora. É preciso deixar claro que assim como defende Vince da Banda Lampirônicos e Terreiro circular o exemplo de cooperativas como o Espaço Cubo, Abacateiro, Eletrocooperativa são exemplos também de ações que funcionam no cenário contemporâneo atual. Nesse contexto também aparece a ABRAFIN (Associação de Festivais Independentes) e ABMI. (Associação Brasileira de Música Independente).
O que isso nos interessa, acredito que a popularização da internet e das novas tecnologias hoje cumpre um papel muito mais atual do que em meado dos anos 80 quando surgiu o Axé-music se analisarmos o cenário da axé - Music veremos que estes artistas não detém lucro com venda de cd´s na sua grande maioria, mais com a estrutura criada pelo axé para escoar seus produtos como carnavais e micaretas fora de época.
Nesse cenário sentimos a falta dos espaços para realizar eventos, mais em contra partida no estado existe espaços de médio porte para produção de eventos, a exemplos de espaços culturais. Com isso o que falta então? Acredito que o maior problema hoje no estado é a falta de produtores locais e a isso incide diversos fatores, como a descrença de que há publico consumidor, a falta de convicção de investimentos públicos funcionarem realmente de forma transparente e em principal a visão reducionista de empresas privadas em investir em determinados setores da cultura local.
Um exemplo interessante de fortalecimento de suas carreiras no local está à banda baiana Cascadura que passou uma temporada no sudeste brasileiro, mas que resolveu se fortalecer no estado de origem, investindo na construção de uma carreira local (Hoje a Cascadura possui um público muito maior do que detinha a Cinco anos, devido a essa perspectiva).
Nesse cenário atual vemos bandas atuais escoarem suas produções em sites pessoais, portais como My space, trama virtual, Palco MP3 e You tube o que aponta para uma reconfiguração do mercado da música. Cumprindo um papel interessante na distribuição. O baixo custo no registro da música provindo do advento das novas tecnologias tem favorecido bastante este cenário. Mas o mais importante disso tudo é a inegável qualidade dos produtores musicais baianos a exemplo de Jera Cravo, André T e Tadeu Mascarenhas que hoje são responsavéis por mais da metade das produções locais. Num cenário em que a mudança de paradigmas que coloca o antigo consumidor/ ouvinte no meio da indústria da música, faz com que o consumidor antes passivo se torne agora o principal personagem na reinvenção da música temos excelentes artistas lançando seus fonogramas como: Subaquáticos, Lampirônicos, Rafael Pondé, Cof Damu, Cobalto, Malefactor, Pandora, Cascadura, Pessoas invisíveis, Formidável Família Musical,Retrofoguetes entre outras.
Mário Jr - (Riffsjr) Músico, “Laptopdj”, ativista cultural e Historiador desenvolve estudos culturais sobre História social da música baiana e “Cultura musical pós-popularização da internet na indústria de produção musical no cenário cultural baiano” produz o E-zine Ultrasom-musical sobre mercado da música independente, novas tecnologias de produção e distribuição musical no cenário cultural baiano, cultura e cibercultura. (http://www.ultrasom-musical.blogspot.com.) Possui tags no Overmundo e no Mugg, Participa de Curadorias, produção e desenvolvimento de projetos culturais e produção musical.
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