segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Documentário sobre Novos Baianos está em fase final


Katherine Funke

Acervo DocDocma
[ Filme mescla imagens históricas e depoimentos atuais ]

[ Filme mescla imagens históricas e depoimentos atuais ]

Noventa minutos para contar dez anos de história da banda Novos Baianos - que mais do que um grupo musical, foi um coletivo onde pelo menos dez artistas simultâneos compartilhavam tudo, desde o espaço físico até o dinheiro que ganhavam. 

Eis o desafio de Henrique Dantas, diretor do documentário “Filhos de João – Admirável Mundo Novo Baiano“, longa que chegará aos cinemas de todo o Brasil ainda em 2009. Assista ao trailer 

Todo gravado em formato digital, o documentário será transferido para formato película 35 milímetros em março. O cineasta baiano negocia distribuir o longa por uma grande empresa, o que fará a história dos Novos Baianos alcançar diferentes pontos do mapa brasileiro e, quem sabe, o circuito internacional. 

Quem já teve a sorte de assistir ao longa, aprovou. Não foi pouca gente, visto que Dantas compartilhou resultados parciais com amigos e os próprios músicos, na intenção de chegar ao melhor produto final possível. 

Em teste de audiência promovido em Brasília pela DATAUnB, Ancine e Videografia, em setembro de 2007, o documentário recebeu 97,5% de aprovação, dos quais 30% eram qualificações de "excelente". 

Para a Muito, Dantas mostrou apenas os dez minutos iniciais. "É que agora estou passando um "pente fino" em tudo, antes do transfer, entende?", explicou. Mas já deu para perceber a qualidade da produção. 

Uma das primeiras cenas é no escritório da casa de Tom Zé. O baiano de Irará conta que dava aulas de violão para Moraes Moreira. 

Quando foi procurado pelo poeta e letrista Luís Galvão (na época, engenheiro agrônomo), logo percebeu que poderia haver uma boa parceira entre ele e Moraes. 

Tom Zé também conta como indicou a banda para João Araújo, o pai de Cazuza. Isso possibilitou a gravação do primeiro disco e a inserção no circuito nacional de música. E por que incentivou que o grupo fosse formado por muita gente, em plena repressão. 

"Fiquei comovido quando vi o filme", conta Moraes Moreira. "A ideia de colocar Tom Zé conduzindo o fio da história foi genial, mágico, maravilhoso". 

Para Dantas, a visita à casa do compositor também teve algo de transcedental: "Saí de lá flutuando, como se meus pés não tocassem no chão. Estar com Tom Zé é algo muito especial". 

CONCEITO
Se Tom Zé foi o padrinho da gênese da banda, João Gilberto (nascido em Juazeiro, na fronteira da Bahia com Pernambuco), por outro lado, é o pai da sonoridade que os Novos Baianos assumiram depois de "Acabou Chorare" (1972). 

A mescla do rock com samba, chorinho e outros ritmos brasileiros nasceu a partir das legendárias visitas que o papa da bossa nova, já famoso mundialmente, fazia ao apartamento dos Novos Baianos, no Rio de Janeiro. “Graças a João Gilberto, eles descobriram o cavaquinho, o bandolim, porque João chegou e falou: - não é só guitarra, não…”, diz Dantas.

Os integrantes da banda afirmam que, não fosse por isso, jamais teriam aportado na sonoridade posteriormente consagrada em músicas como "Vagabundo não é fácil" ou "Swing do Campo Grande".  

Pepeu Gomes pontua: "Nós só ficávamos olhando, de olho no braço do violão, por três dias seguidos, sem dormir, e torcendo para ele voltar logo".

CINEASTA 
Ex-estudante de administração, Dantas decidiu ser artista no meio de um passeio pelo Vale do Capão, na Chapada Diamantina. 

Ele conta que previu, embaixo da Cachoeira da Fumaça, um futuro sem empresas para administrar, com o capitalismo tradicional em crise mundial. Nesse mundo, as formas de produção e de consumo seriam colaborativas e mais imbuídas de todo o tipo de arte. 

O projeto do documentário nasceu quando ele assistia ao programa Frente a Frente, na TVE Bahia, em uma terça-feira. Na telinha, Paulinho Boca de Cantor (principal vocalista masculino da banda) comentava que os Novos Baianos completariam 30 anos no ano seguinte. Já faz uma década, portanto. 
  
Nascido em 1972, na Bahia, Dantas teve a sorte de ter um pai apaixonado por boa música brasileira. “O Pato” na voz & violão de João Gilberto, por exemplo, foi um emblema de sua infância. 

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