domingo, abril 04, 2010

Cameron (AVATAR) Contra Belo Monte



Campanha contra Belo Monte ganha apoio de James Cameron
[01/04/2010 18:25]

O diretor do filme Avatar, responsável pela maior bilheteria da história do cinema (US$ 2 bilhões), disse nesta quarta-feira (31/3), durante coletiva de imprensa em Manaus, que irá propor um movimento internacional contra a usina planejada para ser construída no Rio Xingu. Ele esteve na região e ficou impressionado com o que viu. Afirmou também que deve voltar ao Brasil em breve.


O movimento contra a construção da usina de Belo Monte, na Volta Grande do Rio Xingu, no Pará, acaba de ganhar um novo aliado: o cineasta canadense James Cameron, diretor do filme Avatar, campeão de bilheteria da história do cinema. Em entrevista coletiva em Manaus, nesta quarta-feira, 31 de março, depois de uma visita de três dias à região onde a usina deverá ser construída, Cameron anunciou que vai propor uma campanha internacional contra a obra. Disse que deverá encontrar-se em Los Angeles com o cantor britânico Sting. Vale lembrar que Sting participou em 1989 do I Encontro dos Povos da Floresta, em Altamira, cuja pauta era Belo Monte. Em novembro do ano passado, quando esteve no Brasil, o cantor reencontrou- se com o cacique kayapó Raoni, ambos personagens daquele encontro histórico 20 anos antes. Na pauta, novamente a construção de Belo Monte. Saiba mais.

Cameron foi convidado a conhecer a região onde será construída a hidrelétrica porque Avatar, o filme que ele dirigiu e cuja história escreveu, se passa no planeta Pandora, habitado pelos Na'vi, humanóides, que entram em conflito com seres humanos. Estes querem explorar minérios provocando a destruição da fauna e da floresta características de Pandora. O minério que os humanos querem explorar poderá revolucionar a produção de energia.

Na TI Arara da Volta Grande, Cameron recebe presentes

Apesar de questionamentos sobre a viabilidade socioambiental de Belo Monte, cujos estudos de impacto ambiental não apontaram soluções a problemas cruciais que afetarão as populações que habitam a região, o governo brasileiro aprovou a licença ambiental no dia 1º de fevereiro último. Saiba mais. A licença não oferece nenhuma garantia de que a obra é viável do ponto de vista socioambiental, uma vez que a avaliação técnica do Ibama, que afirmou que "não há elementos suficientes para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento", foi desconsiderada no ato do licenciamento.

Os impactos de Belo Monte

Há que se levar em conta, ainda, o atropelo com que o Ibama concedeu a licença prévia, desconsiderando as observações da equipe que fez o Parecer Técnico 06/2010, que não aceitava a solução proposta para alguns dos impactos socioambientais que afetarão a região. Outra questão crucial diz respeito à qualidade da água. Estudo realizado por especialistas da Universidade de Brasília (UnB), a pedido do Ibama, e entregue poucos dias antes da emissão da licença, afirma que a modelagem utilizada no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é equivocada e insuficiente para fazer prognósticos futuros de como ficará a qualidade da água. Afirma também que, ao contrário do que diz o estudo elaborado pela Eletrobrás, é alta a probabilidade de que a água ao longo de 144 km do Rio Xingu fique "podre" (eutrofizada) e abaixo dos parâmetros mínimos exigidos pela Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o que deveria impedir a expedição da licença.

Além desses impactos, a região da Volta Grande do Rio Xingu, um trecho de cerca de 100 km, onde moram centenas de famílias ribeirinhas e indígenas, deverá viver uma "eterna seca" caso a obra seja construída, pois grande parte da água do rio será desviada para os canais a serem construídos. A licença contrariou a decisão da equipe técnica do Ibama, que afirma que a quantidade de água que a Eletrobrás propõe liberar para esse trecho – e que foi aceita pela diretoria do órgão - é insuficiente para manter o modo de vida dessas pessoas, pois, com as alterações profundas no ciclo natural, não haveria mais como pescar ou navegar. "O desvio de menos água para os canais, deixando mais água para o trecho da Volta Grande, significa menos água para geração de energia aumentando a ociosidade das instalações", explica o assessor do ISA, Marcelo Salazar. Todas essas considerações constam da notificação extrajudicial entregue dia 24 de março pelos movimentos sociais de Altamira, ao BNDES, que vai financiar cerca de 80% do empreendimento. Leia aqui o documento na íntegra.

Durante sua visita à área onde Belo Monte será construída, James Cameron foi recebido na Terra Indígena Arara da Volta Grande e participou de uma reunião com cerca de 80 líderes indígenas representando 13 aldeias de nove Terras Indígenas da região. "Vim aqui para aprender mais sobre o projeto de Belo Monte e agora estou entendendo melhor, posso ir embora e contar para as pessoas do mundo o que presenciei aqui. Sou artista e não um líder político, mas posso conversar com pessoas de todo lugar sobre o que ouvi aqui hoje", disse Cameron às lideranças presentes na TI. "Vi todos aqui mostrarem grande poder, poder que está na habilidade de trabalharem juntos. Vocês já têm grande conexão com a Terra, sabem como viver nesse mundo, tem peixe, o rio, rio que dá vida, vocês têm a floresta, algo que o mundo em que vivo não pode entender". O cineasta recebeu presentes das lideranças e foi conduzido por todos até a beira do Rio Xingu com cantos e danças.

Ao som de cantos e danças todos acompanham o cineasta à beira do Xingu

Ele encontrou-se também com líderes de organizações da sociedade civil brasileira na cidade de Altamira, que será afetada por inundações caso a usina seja construída.

Cameron recebe de Marcelo Salazar, uma camiseta do ISA

Saiba mais sobre a polêmica da usina de Belo Monte.

 
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